EMIGRAÇÃO
A migração é um capítulo da história do homem de qualquer lugar do mundo. A Serra de Santo António não foi exceção, também viu os filhos da terra partirem em busca de um trabalho digno ou de melhores condições de vida. Destinos semeados pelos cinco continentes têm acolhido as nossas gentes, tornando-se o lar definitivo de muitas das gerações mais jovens.
Os testemunhos deixados em palavras vividas descrevem com verdade e emoção a vivência deste fenómeno.
O primeiro registo de emigração data de 1897 para Angola.
Poemas da autoria de Albertina Neves
Ao deixarmos Portugal,
A nossa terra natal,
Sentimos no coração
Esperança em vida melhor.
Com fé em Nosso Senhor
Partimos no avião.
Chegados ao estrangeiro,
Sem ter casa nem dinheiro,
Começando a labutar e
Sentindo constantemente
Saudade da terra ausente,
Só pensamos em trabalhar.
Mal rompe a madrugada
Já toda a gente acordada;
Cada um vai para seu lado
Sem entender nem falar,
Nem sequer dever chorar,
Passamos um mau bocado.
Passados meses e anos
Em que por aqui andamos
Labutando noite e dia,
Que alegria se sente!
Visitar a terra ausente
Que nós deixamos um dia.
Fazem-se os preparativos:
Casacos, calças, vestidos,
Numa grande animação;
Entusiasmo a valer
Para voltarmos a ver
Portugal - nossa Nação.
Abraçam-se os entes queridos.
Conversamos com amigos.
Rezamos na nossa igreja
Pedindo à Virgem também,
Que do Céu é nossa Mãe,
Nos ampare e proteja.
Recordar o tempo antigo,
Mondas e ceifas de trigo,
Labuta de um ano inteiro;
As simples descamisadas,
As grandes azeitonadas
E as festas ao Padroeiro.
Emigrando ou em turismo
Todas sentimos o mesmo
Regressando ao estrangeiro.
Que pena meu Portugal,
Oh minha terra natal,
Não teres também dinheiro!
1913 - Emigração para os Estados Unidos da América
A MINHA TERRA
Oh Serra eu quero-te tanto!
Nunca te posso esquecer!
Nasci e criei-me no canto;
E lá gostei de viver.
Como eram belos os dias
Em que à noitinha, ao sol-pôr,
Ouvi as Avé-Marias
E o regressar do pastor.
Oh Serra!
Serás sempre a minha terra;
E a amizade sincera
Aparece em cada rosto,
Oh Serra!
Nossa igreja é recanto
Que escuta o nosso pranto
Nas horas de algum desgosto.
Santo António Padroeiro,
Teu pastor tão dedicado,
Milagroso medianeiro,
Tem rebanho em todo o lado.
Com seu divino poder,
Lembrando os que estão distantes,
Reza a Deus para proteger
Seu rebanho de emigrantes.
1928 - Emigração para o Brasil
Testemunho de Adelino Dias Querido
“Testemunho de um emigrante, referente à imigração portuguesa que veio para Hartford Conn e seus subúrbios desde 1927 a 1977:
Havia nestas áreas apenas algumas centenas de portugueses, desconhecendo quase totalmente a língua inglesa. Limitavam-se ao uso de sinais ou acenos para arranjarem trabalho e para tudo o que diz respeito à vida diária; ou por outro lado, era um povo mudo sem o ser.
Choravam-se lágrimas sem fim pelos nossos familiares e num modo especial, pelo nosso querido Portugal. Como estava o oceano Atlântico entre a América e Portugal e as dificuldades económicas eram grandes havia apenas uma alternativa: trabalhar nos trabalhos que os outros não queriam e … sofrer; e ir à escola nocturna, que era grátis, e continua a ser, para aprender a língua.
Em 1927 um punhado de portugueses formaram um clube português aonde nos juntávamos para mantermos as nossas tradições e ajudarmo-nos uns aos outros. Algumas aprenderam a língua melhor que outros, facilitando-os a estabelecerem-se com negócios em diversos ramos e a servir de intérpretes para os que não dominavam a língua.
Nestes tempos os emigrantes que aqui estavam eram quase todos só homens, que em grande número vieram clandestinos por não lhe permitirem que viessem legais.
Durante a 2ª guerra mundial muitos destes emigrantes serviram nas forças armadas ajudando a defender esta segunda Pátria honrosamente, porque nos acarinhou durante estes cinquenta anos.
Em 1958 foi inaugurada uma paróquia portuguesa aonde existe escola em português até à 4ª classe, ensinando-se também o inglês.
Em 1971 foi inaugurado um novo clube português.
Hoje residem, nestas áreas, 13 ou 14 mil pessoas portuguesas. Depois da 2ª guerra que atrás me referi, estes emigrantes mandaram vir as mulheres e os filhos, assim como outros familiares, resultando assim os 13 ou 14 mil. Daí que temos hoje negócios em todos ramos e pessoas cultas, como Padres, Engenheiros, Doutores, Professores e Professoras e a também advogados. Enfim, temos de tudo um pouco: mas o temos de melhor é um bom nome. Os portugueses, aqui, são conhecidos como um povo trabalhador e respeitador das leis da Nação e honesto. Quando se trata de comprar casas ou de outro negócio para que seja necessário a ajuda do Banco, o português é o que tem melhor crédito.”
Anos 50 - emigração para a América
Em 1952 foi feito um pedido de apoio aos Emigrantes para melhoramentos da freguesia
Madalena Lopes, Alguns Aspectos da Emigração
“Esta terra, regada com o seu suor, os recebia no seu seio quando a vida se apagava, vítimas da fadiga e da doença, E quase sempre isto sucedia, sem nunca terem mandado notícias à família, por vergonha da sua miséria, ou por não terem quem lhes escrevesse umas saudosas e amarguradas palavras.
Não obstante, a notícia deste encontro com a miséria e exploração não deixa de chegar cá deste lado do Atlântico. Por isso alguns serrantonienses pretendem mudar o rumo da sua rota e conseguem entrada nos Estados Unidos. A emigração para este país era muito difícil antes da 1ª grande guerra, visto que aí se vivia em economia fechada e se procurava reduzir, abolir até, o desemprego.
No Brasil, os que sabiam ler e recusavam o trabalho rural ficavam nas cidades da costa, ou mesmo do interior, e empregavam-se no comércio. Era mais fácil singrar, mas nem sempre isso era conseguido… Mal alojados, mal alimentados, eram muitas vezes espreitados de perto por epidemias - varíola, febre amarela, cólera, etc. – que geralmente não perdoavam.”
Madalena Lopes, Alguns Aspectos da Emigração
“Lares abortados, lares destroçados, corações despedaçados é o triste balanço do êxodo que os povos emigrantes, de qualquer parte do mundo, experimentam.
Todavia, também há compensações, pois muitos foram, e, são capazes de progredir, de evoluir económica e culturalmente.
Então, como hoje, não podiam esquecer a família, a casa, a aldeia. As economias enviadas vão contribuindo para o aumento das arrompidas e crescimento da plantação de oliveiras. Estas vão compondo as fragas, os cabeços, as encostas até aos limites com o Covão de Feto e com Monsanto. Donde se arrancava uma grossa cepa de carrasco, de medronheiro ou até de alecrim, aí se metia uma tanchoeira.
Não só directa mas até indiretamente, a aldeia tem crescido com o dinheiro dos emigrantes e com o muito esforço dos que ficaram.”
Anos 60, emigração para a França
Anos 70 - Emigração para o Canadá e para Angola
Entre as décadas de 40 e 70 do século 20, tempos difíceis de ditadura, quem partia levava consigo a vida do campo, indo muitas vezes sem saber ler nem escrever e uma mala cheia de valores como a família, a fé e o sacrifício que quiseram transmitir aos filhos e aos netos.
Hoje assistimos a uma nova vaga de emigração de famílias e jovens à procura de uma melhor valorização das suas competências.
No entanto, apesar da distância e dos tempos, o amor pela terra continua a manter o elo de ligação às origens.
Os emigrantes continuam a fazer parte da matriz e do futuro da nossa história.